quarta-feira, 26 de setembro de 2012

No último domingo...




Eu estava enérgica, correndo pra lá e pra cá e tentando fazer tudo aquilo que não tinha feito nos 13 últimos dias. Não tive muito tempo para, de fato, organizar o dia com calma, mas organizado ele já estava, mesmo que sem calma. Mas nada como surgir mais alguma coisa inesperada. Em Sawtelle, com o tempo cronometrado de 20 min pra ir, 20 min pra voltar e o mínimo de tempo pra ficar lá, tipo pegar, pagar e sair correndo, o 'done' foi marcado na lista. Afinal, passar um tempo no parque, dar uma volta na praia e tomar um sorvete ainda faziam parte do ótimo plano. Óbvio que nada disso foi muito bem sucedido, pois como é que um último dia seria tão calmo assim? Não em um bilhão de anos...

Era um domingo bem bonito, com sol, temperatura agradável para jogar um casaquinho fino por cima da camiseta, pular o almoço e pegar o wifi alheio. Passeei um passeio com um gostinho de tentar marcar um x em todos os itens da lista que faltavam e me encantei com as músicas de fundo. Era como estar num filme cuja trilha sonora era impecavelmente selecionada a dedo. E daí que uma sms mudou o resto do dia, e voltei à necessidade de fazer aquela uma única coisa que não tinha feito nos últimos 13 dias, e não por falta de vontade e empenho próprio. O estômago estava na boca e não ia dar tempo, mesmo. Larga as coisas no quarto, se esquece de comer, pega a bolsa, sai correndo, tenta traçar um caminho mais rápido e/ou mais fácil pra chegar ao destino por um caminho já quase que usual, já quase que detalhado esquina por esquina nesse cérebro que seleciona, ao seu bel prazer, muito bem o que quer e o que não quer guardar. Suar frio parecia obrigatório. O fator tempo consumia, e o fator morro acima também não era lá muito agradável. O ar parecia faltar conforme o tempo ia mudando e as nuvens iam aparecendo, mesmo que o vento estivesse aumentando sua velocidade. E então Frank tava lá, com a permissão de chamar de Frank, claro. Dois quarteirões, ou um pouco mais, nos separavam do impossível, impalpável, surreal daquilo que se tornaria real algum dia, cedo ou tarde tenho plena certeza. Estranhamente não havia movimento algum. O estranhamente só se tornou estranhamente por conta das confabulações sobre eventos que ocorreriam naquele dia. Um evento, pra ser mais específica. Nada de carros, ou pessoas correndo, ou flashes. Apenas a calmaria de uma rua residencial, sem uma alma viva caminhando no final da tarde, ou passeando com cachorro, ou brincando com os pequenos. A não ser por aquele automóvel branco que virou o quarteirão em direção a um endereço peculiar daquela rua, que primeiramente poderia ser de qualquer pessoa, claro. Mas não era. E daí que tudo que um dia já foi falado, pensado, zombado, imaginado estava a poucos segundos de cair por terra. Brincadeiras internas a parte, não demorou muito para que a identidade do sujeito do carro branco fosse revelada. Foi uma surpresa desconfiada, não muito eufórica... Apenas serviu para bagunçar mais todo o planejamento, afinal, que raios a fada estava fazendo lá? Aquela hora? Seria mais uma convidada, de novo? "Bora desgrudar ae", pensei. Continuei meu caminho para lugar nenhum, como se estivesse tudo dentro dos conformes estabelecidos nas leis suburbanas desse mundo afora. Parei, pensei, voltei, parei, hesitei, resolvi dar meia volta, continuar o caminho para sei lá onde. Com o cérebro a mil, fervendo como as águas termais perdidas em algum parque estadual qualquer, voltei para falar com a criatura. Como tudo aconteceu foi meio bloqueado pela adrenalina do momento, mas, se não me engano, estava pálida, da cor de clara do ovo, da areia de uma praia dos trópicos em um dia de extremo sol e calor. Falar em sol, neste momento ele já estava saindo de cena, de fininho, quase que como morrendo de vergonha por estar ali e assistir a tudo bem de perto. Aparentemente, até ele ficou com medo de onde aquela conversa iria levar. "Ei, desculpa, você pode me ajudar?", falei antes de poder pensar em alguma frase mais elaborada, de maior efeito, ou menos retartada mesmo. Eu não precisava de ajuda propriamente falando. Perguntei com um tom afirmativo se o nome dessa personagem peculiar das imaginações mais pertinentes de meu ser era o que eu já sabia ser e, claro, a resposta foi afirmativa seguida de uma expressão de plena dúvida. "Como sabe meu nome?", retrucou. A história toda não cabe ser falada, ser contada, ser exposta nem muito menos ser revelada. E para encurtar, chegar no final logo, naquele último capítulo sem final totalmente feliz, ou talvez em parte, ou talvez com uma brecha para mais uma edição, papo veio e papo foi, um favor foi feito e o mais esperado não. Talvez a falta de ética, talvez a falta de vergonha na cara ou o contrário, a falta de iniciativa, de ser cara de pau, de esperar, de querer, tudo isso atrapalhou. Ou ajudou, vai saber. Até hoje desconfio se o que foi feito foi o certo, se foi o melhor. Ainda hoje tenho dúvidas se certas atitudes poderiam ter sido outras. "Você quer alguma coisa em troca?", me foi perguntado. Alguma coisa em troca? Sério? Depende, o que quero em troca é impossível e não está ao seu alcance. Essa foi a resposta que queria ter dado, mas fiquei com um "Não, obrigada, isso tudo já é o suficiente." Fui embora, refleti por uns segundos na rua ao lado, ainda desnorteada por tudo que havia ouvido e falado, tentando processar o que de fato havia acontecido ali, naquele lugar, naquele instante. Só sei que foi verdade porque há provas, senão não hesitaria dizer que fora tudo da imaginação. Saí correndo, já com frio, suando, sem acreditar em uma palavra dita, perdida naquelas ruas que já foram parte de minha coleção de mapas urbanos pouco tempo antes do ocorrido e peguei emprestado novamente o wifi alheio.